Falke Jacob Von - 1887

"Aquilo que os remédios não curam, cura o ferro; aquilo que o ferro não cura, cura o fogo; aquilo que o fogo não cura é preciso considerá-lo irremediável."

(Hipócrates)


Esta frase de Hipócrates, de há quase 2500 anos, é frequentemente escolhida como ponto de partida para os debates acerca deste tópico. Ainda que certamente exagerada, esta enfática declaração foi provavelmente inspirada pela observação de alterações totalmente inesperadas no curso de doenças incuráveis por doentes que, padecendo normalmente de infeções, tinham passado por febres altas.

Do mesmo modo, no século XVII, o médico inglês Sir Thomas Sydenham enfatizou: "A febre é um instrumento da natureza".

Inúmeras culturas antigas conheciam os efeitos benéficos do aquecimento físico do organismo, utilizando banhos de água quente, areia quente ou vapor quente, como tendas tipo sauna, usadas pelos povos indígenas do continente americano para curas do corpo e da mente.

Antes da introdução dos medicamentos antibióticos e anti-inflamatórios em meados do século XX, em doenças incuráveis potencialmente fatais, os médicos aplicavam deliberadamente infeções aos doentes provocando uma forte reação de febre. Wagner-Jaueregg ganhou o Prémio Nobel da Medicina em 1927 pelo tratamento bem-sucedido (algumas vezes) de demência paralítica por inoculação da malária. Também registou melhorias em distúrbios depressivos.

Em 1866, W. Busch notou uma associação entre a resposta febril e a regressão do tumor ao observar remissão do neoplasma em doentes afetados com erisipelas graves. O relatório de um caso semelhante na remissão completa de um sarcoma encorajou W.B. Coley, um cirurgião americano, a injetar uma mistura de streptococcus erysipelatis e bacillus prodigiosus, as chamadas "toxinas de Coley" conseguindo remissões numa doença maligna progressiva, até então incurável. Coley é conhecido como o pai da imunoterapia anticancro.

Até à década de 60 do século XX, os medicamentos pirógeros (ex. "Pyrifer" ou "Vaccineurin") eram utilizados na medicina tradicional para o tratamento de doenças crónicas.

Em 1957, Ferdinand Hoff, um dos mais conceituados especialistas e autor do manual geral da medicina interna, publicou o livro "Fieber, unspezifische Abwehrvorgänge, unspezifische Therapie" (Febre, mecanismos de defesa não específicos, terapia não específica).

Os efeitos terapêuticos dos "banhos de febre" quentes foram amplamente descritos por Lampert, Schlenz, Devrient e Walinski, entre outros, abordando especialmente as doenças infeciosas e inflamatórias.

O triunfo dos antibióticos e dos corticoides – naturalmente uma bênção para a humanidade, especialmente no tratamento de doenças agudas – interrompeu de forma abrupta e quase totalmente esta longa tradição terapêutica.

Tomando consciência dos limites e dos efeitos secundários das terapias medicamentosas em várias doenças crónicas, é importante rever e renovar o conceito de hipertermia para o corpo inteiro.

Os pioneiros da hipertermia para o corpo inteiro moderna são Manfred von Ardenne, que se focou na hipertermia oncológica extrema de cerca de 42 °C em combinação com hiperoxia e hiperglicemia visando danos diretos nas células cancerígenas, e Martin Heckel, que se focou em temperaturas semelhantes a febre para estimular ou repor funções imunitárias em caso de inflamação crónica e doença maligna.